domingo, 22 de março de 2020

Favelas esperam a chegada do coronavírus sem água e com aglomerações



Da reportagem de Júlia Barbon e Tércio Teixeira na Folha de S.Paulo.
Por vários dias na última semana, Mayara Alves, 39, e seu marido ficaram acordados até de madrugada. À 1h, quando o movimento já não era tão grande na favela da Rocinha, eles começavam o sobe e desce na ladeira entre sua casa e a única bica que jorrava água.
Com os baldes carregados, o casal e os dois filhos tomavam banho agachados em uma bacia, para depois aproveitar o restante como descarga. A roupa suja que já não tinha mais onde colocar, Mayara confinava em sacos de lixo para evitar contaminação.
Todo o cuidado é para impedir ao máximo o contato das duas crianças, que têm dermatite atópica e, portanto, a imunidade baixa, com a rua. Mas vinha sendo difícil fazer isso sem poder lavar as mãos por quase três semanas, até sexta (20), e com as vias da comunidade movimentadas.
A falta de água e a aglomeração ainda são a realidade de favelas do Rio de Janeiro como Rocinha, Tabajaras (zona sul) e Providência (centro), onde a circulação de pessoas diminuiu pouco após a chegada do coronavírus no estado, que já confirmou 109 casos da doença.
Famílias morando num único cômodo, trabalhadores se deslocando, crianças brincando nas ruas, comércios abertos e bares cheios continuam sendo cenas frequentes. No Beco do Índio, por exemplo, pequena comunidade no Recreio (zona oeste), nem vizinhos doentes afastaram a população.
Ali, uma mulher que não quis ser identificada, de 31 anos, gritava da varanda, de máscara, que está apavorada desde que começou a sentir febre alta, tosse, dores no corpo e dificuldade para respirar. Ela foi ao posto de saúde mas, sem testes para o coronavírus, recomendaram apenas isolamento.
fonte: diariodocentrodomundo.com.br

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