Entre os brasileiros que precisam urgentemente de ajuda financeira, existem milhões que não têm como receber. Oficialmente, eles não existem.
Milhões de brasileiros não têm nenhum documento de identificação.
Repórter: Camila, você já foi à escola?
Camila: Não, nunca pude ir à escola.
Repórter: Serviços de saúde, você tem acesso?
Camila: Também não.
Repórter: Algum documento você tem?
Camila: Nada. Nenhum.
Repórter: Você tem alguma prova de que você existe?
Camila: Não. Só de boca.
Camila: Não, nunca pude ir à escola.
Repórter: Serviços de saúde, você tem acesso?
Camila: Também não.
Repórter: Algum documento você tem?
Camila: Nada. Nenhum.
Repórter: Você tem alguma prova de que você existe?
Camila: Não. Só de boca.
Camila da Silva, desempregada, não pode provar quem é. Ela tenta tirar a
certidão de nascimento há dois anos. Não consegue porque a mãe dela
também não foi registrada.
“O meu sonho é poder trabalhar, é poder ir para a escola, é poder existir para sociedade”, diz.
Milhões de brasileiros não foram registrados quando nasceram. Sem certidão de nascimento, não têm carteira de identidade e CPF.
Também não têm acesso aos serviços públicos como saúde e educação e nem
aos programas de assistência do governo.
O último dado do IBGE é de 2015. Calculou que três milhões de pessoas
viviam nessa situação. Aos 29 anos, Cleiton luta há dez para existir. E
agora também quer ter o nome na certidão de nascimento do filho. “Ele está registrado, mas sem o meu nome, eu preciso da minha certidão
de nascimento para colocar o meu nome na certidão do meu filho”, diz.
Iohana tenta um registro de nascimento tardio desde 2015. Ela nunca foi
à escola e não consegue se consultar no SUS. Também não pode receber o
auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal.
“Eu tenho três filhos de menor. Às vezes as crianças pedem alguma coisa
e não tem. Dentro de casa falta. Eu tenho um comerciozinho, eu vivo da
ajuda das pessoas”, conta a autônoma Iohana Almeida da Silva.
“Eles são realmente não-cidadãos. Passam à margem de qualquer tipo de
ação do estado. Não têm o registro básico, que é a certidão de
nascimento. Isso é o começo de uma trajetória, o sujeito vai ser
informal a vida toda, vai ser desprotegido a vida toda, o que numa
situação de pandemia é um risco de vida”, explica o economista da FGV
Marcelo Neri.
“Eu tenho garra, eu tenho coragem, mas é difícil, porque quando você
chega lá na frente, você recebe um não porque você não tem o seu
documento”, diz Iohana.
Todos os brasileiros que apareceram na reportagem tentam provar na
Justiça que existem. No Rio, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Social e Direitos Humanos realiza ações para tentar erradicar a falta de
registro de nascimento e dar acesso à documentação básica.
Fonte: G1
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