segunda-feira, 20 de abril de 2020

‘Beijo na boca, nem morta!’: prostitutas contam nova rotina após Covid

Profissionais do sexo deixaram as ruas, mas continuam atendendo “clientes fiéis” e correndo risco de contaminação.



Enquanto muitos trabalhadores se perguntam quando os patrões adotarão a MP 936, que autoriza empresas a reduzirem em até 70% o salário de seus funcionários, uma classe historicamente marginalizada convive há mais de três semanas com reduções ainda maiores. Dani Karla, de 27 anos, garota de programa há 7 anos, faz parte deste grupo. No início do mês, quando a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, propôs que as prostitutas respeitassem o isolamento social prestando serviços virtuais, Dani riu. Para não chorar. “Ninguém sabe que eu faço esse tipo de serviço, como vou me divulgar por aí, fazer vídeo? Não posso ficar em casa esperando a morte chegar, sem me alimentar”, diz ela, que cobra R$ 170 por hora. Dani segue atendendo “um ou outro cliente” e acredita ter desenvolvido um método próprio para não pegar a Covid-19. “Digo logo: ‘Você pode ficar à distância de um braço do meu rosto, por favor?’ Alguns nem encostam direito em mim. Às vezes, pedem máscara. Acho ótimo. Beijo na boca nem morta”. As informações são do O Globo.

De acordo com especialistas, a “técnica” de Dani não é capaz de protegê-la. “Essa é uma doença viral de transmissão respiratória. Mesmo com a distância, pequenas gotículas resistem no ambiente por horas na forma de aerossol”, explica a infectologista Karis Rodrigues. “Além das gotículas, tem o uso das mãos. O risco é brutal”, avalia o médico sanitarista Sérgio Zanetta.
Se ainda estivesse no ramo, Raquel afirma que adotaria o distanciamento, contando com a compreensão dos clientes mais fiéis. “Por mais difícil que seja parar, priorizaria a minha saúde, para ficar bem e retornar com tudo após o isolamento.” Para a clientela cativa, ela sugeriria “pacotes especiais”, como “vale-compras”. “Criaria promoções, como algumas lojas têm feito. Aqueles que entenderem o momento que o mundo está vivendo, seriam beneficiados com um bom desconto — eu daria 20% — e poderiam usufruir dele depois da pandemia”, explica.
Por mais incômoda que seja a ideia da venda do corpo à prestação, o fato é que, na prática, existe uma negação da pandemia tanto por parte dos clientes quanto de algumas profissionais do sexo. “Não vou dizer que não tenho medo, mas é só marcar o motel que estarei lá”, diz Priscilla Jones, de 25 anos. Ela cobra R$ 300 por hora e aceita todos os cartões. “Percebi que todo o mundo está assustado, mas não tenho como parar agora. Sou de Goiás e trabalho no Rio. Voltar para a minha cidade está fora de questão”, comenta.

Desde que o Brasil adotou o distanciamento social como forma de controlar a pandemia, Priscilla tem contado com as boas gorjetas dos consumidores fiéis para pagar o aluguel. “Torço para não pegar a doença e continuo fazendo tudo igual”, confessa. “Os clientes que ainda nos procuram parecem estar vivendo em um universo paralelo. Para eles, a doença não existe.”
Por mais que ainda atendam a cerca de um terço da clientela de antes da pandemia, Dani, Priscila e outras garotas de programa desapareceram das ruas. Nas esquinas da Avenida Atlântica não há mais meninas trabalhando, e em “boates” como Barbarella e Marrakech, próximas à Prado Júnior, as portas estão fechadas com avisos sobre o período de isolamento.
fonte: https:fanoticias.com.br

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