terça-feira, 3 de agosto de 2021

Entenda o caso: Menino morto pela mãe em Imbé (RS).

A Polícia Civil investiga a morte de Miguel dos Santos Rodrigues, de 7 anos, que foi medicado e teve o corpo jogado do Rio Tramandaí, em Imbé, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, na última quinta-feira (29). Segundo a polícia, a mãe, Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, confessou o crime. Ela e a companheira, Bruna Nathieli Porto da Rosa, estão presas.

O advogado de defesa das suspeitas disse que só irá se manifestar nos autos do processo.

De acordo com as investigações, o menino sofria intensa tortura física e psicológica. Ele era amarrado dentro de um guarda-roupa.

A polícia teve acesso a vídeos e prints de conversas em que a companheira conversa com a mãe da criança e com a própria irmã sobre a compra de uma corrente que seria para amarrar o menino.

 O que se sabe sobre o caso
  1. Como e quando foi a morte
  2. O que diz a mãe
  3. Qual o envolvimento da companheira com o crime
  4. Como são feitas as buscas pelo corpo do menino
  5. Criança sofria tortura física e psicológica
  6. O que dizem as escolas e os conselhos tutelares
  7. Avó materna pediu guarda do menino

1. Como e quando foi a morte

Na madrugada da última quarta-feira (28), Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, de 26 anos, deu remédios ao filho Miguel e o colocou dentro de uma mala. Em depoimento à polícia, ela informou não ter certeza se a criança estava viva ou morta.

"Para fugir, com medo da polícia, saiu de casa, pegando ruas de dentro, não as avenidas principais, levou a criança dentro de uma mala na beira do rio, e jogou o corpo. Repito, ela não tem convicção de que o filho estava morto", afirma o delegado do caso, Antonio Carlos Ractz. Júnior

Um dia depois, já na noite de quinta (29), ela foi até a delegacia registrar o desaparecimento do filho.

"Ao anoitecer de ontem [quinta], a mãe dessa criança, com a sua companheira, procurou a DPPA de Tramandaí, a fim de registrar uma ocorrência policial de desaparecimento de seu filho. Alegou que o filho havia desaparecido há dois dias e que ainda não havia procurado a polícia porque pesquisou no Google e viu que teria que aguardar 48h. E começou a apresentar uma série de contradições, o que levou desconfiança da BM e PC", diz o delegado.

2. O que diz a mãe

Ao ser procurada pelo delegado responsável, Yasmin teria admitido o crime. "Ela tem um perfil de psicopata. Durante toda a minha carreira, eu não havia me deparado com alguém tão frio", afirma Ractz.

3. Qual o envolvimento da companheira com o crime

Bruna Nathieli Porto da Rosa foi presa temporariamente no final da tarde de domingo (1º). A Polícia Civil já investigava o envolvimento dela desde o desaparecimento, na quarta (28), mas, após ter acesso aos telefones celulares de ambas as suspeitas, encontrou trocas de mensagens e vídeos nos quais ela ameaçava o menino. Ela nega.

Os indícios apontam maus-tratos e violência psicológica, segundo a Polícia Civil. Uma conversa por texto entre elas, obtida pela polícia, mostra diálogos sobre a compra de uma corrente, que seria usada para acorrentar o menino com o objetivo de evitar fugas.

De acordo com o delegado Antonio Carlos Ractz Júnior, a companheira passou por uma avaliação psiquiátrica, que apontou autismo leve. Porém, segundo o delegado, isto não impede a responsabilização dela.

"Ela será avaliada por peritos que concluirão se ela é imputável, semi-imputável ou inimputável. De qualquer forma, ela permanecerá presa enquanto não sair o resultado dessa perícia", afirmou.

4. Como são feitas as buscas pelo corpo do menino

Os bombeiros fizeram buscas no Rio Tramandaí a partir da denúncia à procura do corpo do menino. Foram usadas motos-aquáticas, botes, lanchas e um drone para identificar os locais de mais difícil acesso.

Como havia bastante mata e vegetação costeira, que dificultavam as buscas, foi convocada a Equipe de Mergulho de Porto Alegre, que atuou, na tarde de sábado (31) e em todo o domingo (1º), nas águas internas de água doce. Cerca de 16 homens atuaram na operação.

Ao mesmo tempo, foram disparados alertas às embarcações para que ficassem atentas a algum sinal do corpo do garoto no mar. Devido ao curso do rio desaguar no oceano, os bombeiros fazem, desde então, varreduras nas praias para ver se algum objeto foi levado à terra nas orlas de Capão da Canoa e Torres.

De acordo com o comandante do CBM de Tramandaí, tenente Elísio Lucrécio, neste momento, as buscas estão concentradas no mar.

"A correnteza do rio está forte, continua mandando água para fora, em direção ao mar. Já será o terceiro dia de vazante. Então isso também diminui as nossas chances de o menino ainda estar na lagoa, estar no rio", explica.

O Rio Tramandaí é um canal entre uma lagoa interna e o Oceano Atlântico. O curso de água é o limite entre os municípios de Tramandaí e Imbé, ligados por uma ponte. O local é conhecido pela prática de pesca e pela circulação de animais marinhos, como botos.

Os bombeiros também trabalham com o apoio da Marinha, da Patrulha Ambiental (Patram) da Brigada Militar e da Polícia Civil. A corporação também pede a ajuda de pescadores, que eventualmente podem avistar o corpo do menino no mar.

"A gente pede para os pescadores e também à população se, deparando-se com algum objeto ou alguma coisa flutuante que possa ser comparado ao corpo de uma criança, que nos ligue. A gente, de imediato, vai fazer a vistoria in loco", diz o comandante do CBM de Tramandaí.

Na terça-feira (3), as buscas entraram no sexto dia, sem a localização de Miguel.

5. Menino sofria tortura física e psicológica

A Polícia Civil suspeita que a criança vivia sob intensa tortura física e psicológica. "Era desnutrida, embora estivesse matriculada na escola, não tinha amigos, não frequentava lugar algum, era trancada em um cômodo da casa, posta de castigo, trancada amarrada dentro de um roupeiro", descreve o delegado Ractz.

O delegado afirma que, durante o interrogatório, a suspeita não demonstrava nenhum sentimento pelo filho. "A preocupação é com a companheira, não com a criança. Ela declarou que o filho atrapalhava ela", disse.

Segundo a polícia, a companheira também participava das torturas psicológicas. Em um vídeo acessado nos celulares das suspeitas ela se dirige ao menino, que está dentro de um guarda-roupa, e ameaça espancá-lo caso desobedecesse.

"Eu vou te cuidar. Se a tua mãe chegar e tu te mijar, eu te desmonto a pau. Eu te desmonto, eu te desmonto, eu te desmonto, e tu vai sair todo quebrado. Se tu se mijar, eu pego o teu mijo e esfrego na tua cara", diz no vídeo disponibilizado pela polícia.

Em depoimento, a mãe teria alegado que o filho era fruto de um estupro, mas a polícia desconfia da alegação, já que ela morava com o namorado na casa dos próprios pais.

6. O que dizem as escolas e os conselhos tutelares

Segundo o Conselho Tutelar de Imbé, a família de Miguel morava na cidade desde maio de 2021. O conselheiro João Batista de Matias disse ao G1 que não havia registro de denúncias envolvendo mãe e filho.

O menino foi matriculado na Escola Olavo Bilac em maio, mas não chegou a frequentar aulas presenciais, apenas atividades remotas. De acordo com a diretora da instituição, a mãe alegou que a criança sofria de asma.

Segundo Elenice de Souza Ribeiro, a mãe "parecia preocupada" com a educação do filho, pois levava as avaliações para casa e devolvia os trabalhos na instituição. Além disso, Yasmin também se comunicava com os professores pelo celular.

Antes de Imbé, Yasmin e Miguel viviam em Paraí, na Serra do RS. No município, também não há registro de denúncias, segundo a conselheira tutelar Maria Therezinha da Silva Richetti.

"Nunca veio nenhuma denúncia, nada. Se não a gente teria tomado a providência, feito visita", comenta.

Miguel estava matriculado na Escola Mateus Dal Pozzo, onde a avó materna trabalhava. Ela foi afastada temporariamente das atividades em razão da morte do neto.

Na instituição, a avaliação era de que a mãe se fazia presente na vida escolar do aluno, acompanhando trabalhos e notas. Miguel é descrito como uma criança tranquila e sempre muito sorridente, sem dar sinais de que vivia sob maus-tratos.

7. Avó materna pediu guarda do menino

A avó materna de Miguel iniciou, no dia 8 de junho, um processo para obter a guarda da criança, segundo a Defensoria Pública do RS. A ação, no entanto, só passou a tramitar no Judiciário em 29 de julho, quando o menino já havia sido dado como morto pela polícia.

A Defensoria afirma que isso ocorreu porque a mãe da criança só entregou a documentação necessária para a abertura do processo apenas um dia antes de comunicar à polícia o desaparecimento do filho.

O Tribunal de Justiça disse que o processo de alteração consensual de guarda, cujas autoras são a mãe e a avó da criança, foi registrada às 16h03 do dia 29 de julho. A ação tramitava em segredo de justiça.

Fonte: G1
 

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