A Rede de Proteção da Criança e do Adolescente compreende
um grande número de pessoas. Entre elas, professores, policiais
militares, policiais civis, conselheiros tutelares e judiciário. Toda
essa rede precisa estar alinhada para que em casos de violência o
acolhimento seja imediato. Para alinhar toda essa comunicação, em
Uberlândia o Núcleo de Atenção Integral a Vítimas de Agressão Sexual
(Nuavidas), da Universidade Federal de Uberlândia, trabalha ativamente
em um projeto chamado “Educação permanente para o cuidado integral a
pessoas em situação de violência sexual”.
O
projeto consiste em encontros mensais onde toda essa rede de proteção é
orientada da melhor maneira para lidar com a violência. O tema do
próximo encontro é "Escuta especializada: responsabilidade de quem?". A
escuta especializada no depoimento especial evita que a vítima tenha que
ficar repetindo inúmeras vezes a situação violenta pela qual passou e
promove o acolhimento e encaminhamento para o melhor tratamento.
O tema escolhido não é por acaso. De acordo com a psicóloga do
Nuavidas, Anamaria Silva Neves, a divulgação agora é voltada para os
educadores, isso porque a escola é um grande canal de denúncia. Com a
pandemia, as crianças não foram para as instituições de ensino e
acabaram ficando em casa expostas a essa violência. A profissional
destacou que cerca de 80% dos violentadores são pessoas ligadas à
família. Dentro desse grupo, a grande maioria é pai ou padrasto.
“É muito importante que os educadores se sensibilizem porque as
crianças estão voltando para a escola. É importante que esses
profissionais estejam atentos. A criança não fala verbalmente sempre,
ela fala em comportamento. Então, a gente acha muito importante
adicionar os educadores para ficarem atentos às movimentações e
expressões da infância nesse período de retorno”, disse Anamaria.
Além da psicóloga, o juiz da vara da Infância e Adolescência de
Uberlândia, José Roberto Poiani, participa do encontro e destaca que o
objetivo é trabalhar essa informação continuada dentro de todas as
instituições que lidam com crianças e adolescentes. “A escuta
especializada é importante para evitar a revitimização. É uma entrevista
muito importante para que se colham os elementos necessários a fim de
que essa criança receba os melhores encaminhamentos na saúde, na
assistência social, na saúde emocional, na psicologia”, explicou.
O juiz destaca ainda que diante da violência existem duas
preocupações. A primeira, e mais importante, é a proteção da criança e
do adolescente para tratar as feridas físicas e emocionais causadas por
essa situação. A segunda é buscar elementos para responsabilizar os
autores. “Quando a criança no sistema antigo revelava para alguém que
ela estava sofrendo algum abuso, ela tinha que ficar repetindo isso para
o professor, para o diretor da escola, para o conselho tutelar, para o
policial militar, para o policial civil. Então, até chegar no juiz ela
já tinha revivido essa situação 10 vezes. Isso faz ela rememorar, cada
vez que ela fala sobre a violência”, enfatizou Poiani.
Fonte: Diário de Uberlândia
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