Em uma medida inédita no País, a prefeitura de Betim, na Grande Belo Horizonte, decidiu aplicar a vacina da Pfizer contra a covid-19 em estudantes de 12 a 14 anos da rede pública municipal a partir desta quarta-feira, 16.
A mudança de rumo em relação ao Programa Nacional de
Imunização, que orienta a vacinação com base nas idades mais avançadas e
em grupos com comorbidades, ocorre quatro dias após a autorização pela Anvisa de uso do imunizante em adolescentes de 12 a 15 anos no Brasil.
"Na
escala de grupos de risco, nós estamos em dia em Betim. Recebemos um
lote de 6 mil doses que correspondem a cerca de 50% do grupo do ensino
fundamental. Estamos prevendo receber um outro lote na próxima semana,
decidimos reservar esses lotes da Pfizer, única homologada para essa
idade de 12 a 14 anos, para poder garantir a volta às aulas 100%
segura", disse o prefeito de Betim, Vittorio Medioli, ao Estadão.
A
medida recebeu críticas. A consultora da Sociedade Brasileira de
Infectologia Raquel Stucci, professora da Unicamp, condenou o que chama
de "descontrole na política de vacinação no País" e considerou a ação da
Prefeitura de Betim "equivocada".
"É
certo que nós temos um total descontrole na imunização no País, há
municípios em que não completaram nem a primeira dose nos grupos de
risco. A impressão que eu tenho é que a cidade optou por desviar
(vacinas), eu tenho dificuldade de aceitar. Acho que eles estão
absolutamente equivocados sobre a importância dessa faixa etária como
prioridade para vacinação", disse a especialista.
Raquel
Stucci afirmou ainda que o ideal seria que o município, que atualmente
vacina pessoas na faixa etária dos 59 anos, incluísse no calendário
cidadãos com idade imediatamente inferior. "São essas pessoas que estão
lotando os hospitais", comentou.
Após ouvir a
infectologista, a reportagem procurou novamente o prefeito de Betim para
que comentasse as críticas. Ele negou que esteja ocorrendo um "desvio"
de doses e disse que a vacinação dos outros grupos prossegue. "Nós
estamos descendo de 59 anos e estamos subindo agora com os adolescentes.
Estamos numa guerra contra o vírus e entendemos que a nossa estratégia
está dentro da lei", afirmou Medioli.
"Temos uma preocupação real em garantir uma volta às aulas
100% segura. Esses meninos são os maiores vetores e são assintomáticos.
Além disso, estão na faixa etária do maior índice de analfabetismo
funcional e já perderam um ano inteiro", justifica o prefeito de Betim.
A expectativa do município é vacinar todos os 18 mil alunos com a primeira dose em três semanas
- 700 são da rede particular e 4 mil da estadual. O retorno
semipresencial dos alunos às escolas de Betim está programado para
agosto.
Em nota, o Ministério da Saúde informa que "a
ampliação da vacinação para adolescentes a partir dos 12 anos, com o
imunizante da Pfizer, está em discussão na Câmara Técnica
Assessora em
Imunização e Doenças Transmissíveis".
No texto, a
pasta "reforça que, neste momento, a prioridade é vacinar todos os
grupos prioritários estipulados pelo Plano Nacional de Operacionalização
da Vacinação contra a Covid-19 e imunizar toda a população acima de 18
anos". No entanto, os gestores locais do SUS têm autonomia para seguir
com a própria estratégia de vacinação.
Mãe de João
Gabriel Rodrigues Nani, 12 anos, a bióloga e servidora pública Laís
Sabrina de Melo Rodrigues, defende a inclusão dos adolescentes no
programa. "A vacina traz esperança, não acho que esteja desfavorecendo
outros grupos", disse ela. Sem comorbidade, João Gabriel é aluno da rede
municipal de Betim e deve ser vacinado na próxima semana em função da
região onde estuda.
"Temos visto jovens e idosos
saudáveis morrendo de doença, a vacina tem que chegar para todos. Isso
aumenta a esperança da gente de deixar os meninos voltarem pra escola",
argumenta Laís.
Fonte: Terra
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