sexta-feira, 28 de maio de 2021

Conselho Tutelar denuncia que pais 'alugam' crianças para pedir dinheiro em ruas.



Encontrar crianças pedindo dinheiro nas ruas de Manaus é um antigo problema, que vem se tornando cada vez mais comum.

Só nos quatro primeiros meses deste ano, a prefeitura recebeu 69 denúncias de crianças nos semáforos. Ao verificar as denúncias, as equipes de abordagem social identificaram 42 famílias, 72 crianças e 8 adolescentes nessa situação.

De acordo com o Conselho Tutelar, cada situação precisa ser analisada, e apesar de haver famílias em vulnerabilidade social, uma das coisas que mais preocupam é que muitas dessas crianças estão sendo exploradas pelos próprios pais, que "alugam" os filhos para a prática de pedir dinheiro nos semáforos.

O conselheiro tutelar Francisco Amaral disse que o órgão tem abordado diariamente famílias em situações como essa, e aplicando advertência por escrito. Segundo ele, os pais são notificados, e caso o ocorrido volte acontecer, podem responder judicialmente e perder a guarda dos filhos.

“Tem crianças sendo alugadas para essa prática, e isso já se torna um ato criminoso e não mais uma situação de vulnerabilidade. Há situações que é realmente a vulnerabilidade, mas a maioria delas é a exploração das crianças para mendicância. Notificamos, e se isso vier a se repetir' não temos outra saída a não ser apresentar criminalmente esses pais e pedir a destituição do poder familiar ", comentou.

Casos como esses devem ser levados à delegacia, e a população pode ajudar a diminuir essa prática, inclusive não contribuindo financeiramente.

"Se você dá o dinheiro para a criança, você está dizendo 'volte amanhã', e incentivando essa prática. O melhor é não contribuir, e acionar os órgãos responsáveis", concluiu.

Mesmo com as ações para inibir esse tipo de crime, a cena se repete em vários pontos das cidade. As crianças se arriscam entre os carros até mesmo durante a noite, em ruas movimentadas, pedindo dinheiro, vendendo água ou sentadas na calçada durante todo o dia, horários em que poderiam estar estudando.

A Secretaria da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc) é quem faz o trabalho de identificação das crianças e famílias, e encaminha para o Conselho Tutelar, órgão responsável pelo processo de proteção integral das crianças e adolescentes.

Segundo a secretária da Semasc, Jane Mara, é importante que todos façam sua parte, e haja um trabalho de conscientização.

"A nossa ação é de identificação. Fazemos um processo de abordagem, fazendo um levantamento de perfil, identificando crianças e adolescentes em situação de abuso. E depois disso, acionamos o Conselho Tutelar para que ele tome as medidas necessárias. Ele é o órgão que atua na proteção integral das crianças e adolescentes. É ele quem tem o contato com toda a rede de proteção e com órgãos como o Ministério Público e o Tribunal de Justiça", contou.

Com a chegada de milhares de imigrantes, o número de pedintes nas ruas aumentou. No entanto, segundo o Conselho Tutelar, a quantidade de estrangeiros e brasileiros atualmente está equilibrada. A pandemia aumentou a dificuldade de famílias na extrema pobreza.

A refugiada Ariane Herrera vende água em um semáforo de Manaus, com o marido e os três filhos do casal. Ela diz reconhecer o problema, mas voltar para a Venezuela, não é uma alternativa.

"É difícil ter que pagar aluguel. Além disso, não tenho com quem deixar minha criança, e é por isso que trago para cá. Não vou deixa-los em casa sozinhos, não tenho família aqui. Fico vigiando enquanto o marido entrega as águas. Quero sair dessa situação, mas não tenho como", comentou.

Depois de um dia inteiro de trabalho, a família volta para a casa. Os cinco dividem a cama e o pouco espaço que sobra para se locomover nesse cômodo. As roupas se misturam com as doações de comida que recebem. Para pagar o aluguel, vai a maior parte do dinheiro da venda de água. O casal matriculou os filhos na escola e aguarda o início do ano letivo.

Diante de situações como a da família de Ariane, a prefeitura está elaborando um plano de atendimento à população de rua. Até o momento, 718 pessoas estão inseridas no cadastro único e destas, 527 são beneficiárias do programa Bolsa Família.

Combater situações como essas, requer uma ação conjunta envolvendo vários órgãos públicos e a própria sociedade.

Fonte: G1




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