sexta-feira, 12 de março de 2021

Rede pública registra alta de gravidez na adolescência.

O número de adolescentes grávidas, em Bauru, saltou de 195 para 260 entre 2019 e 2020, o que equivale a um aumento de cerca de 30%. A estatística considera apenas os nascimentos registrados na rede pública de saúde, especificamente, na Maternidade Santa Isabel, segundo um levantamento feito pelo Conselho Tutelar 1. Por outro lado, a idade mínima das meninas reduziu de um ano para o outro: de 13 para 12 anos. Os dados foram divulgados pelo presidente do conselho, Casemiro de Abreu Neto, durante a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, promovida no último mês.

De acordo com ele, o fenômeno atinge adolescentes cada vez mais jovens por dois motivos principais: disfunção familiar e inércia do poder público, em todas as instâncias, seja municipal, estadual ou federal.

No primeiro caso, o presidente do órgão, com base na sua experiência no dia a dia, reforça que muitas meninas não têm pai ou o mesmo não exerce tal função. "As adolescentes buscam compensar a falta de afeto em relacionamentos cada vez mais precoces e a ausência de informações sobre o assunto leva a uma gestação indesejada".

Abreu Neto destaca, também, que o município pouco se movimentou para a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência deste ano. A prefeitura, no entanto, rebate a informação e diz ter feito 55 atividades na cidade (leia mais ao lado).

Ainda acordo com ele, algumas secretarias municipais foram notificadas sobre o aumento do número de adolescentes grávidas.

O presidente do Conselho Tutelar 1 também critica os governos estadual e federal. "No ano anterior, a DRS-6 divulgou ao JC que, em toda a região, houve queda do número de mães adolescentes entre 2017 e 2019 devido ao êxito das políticas públicas adotadas pelo Estado. Se isso, realmente, procedesse, a cidade não registraria uma quantidade crescente de ocorrências do tipo", pontua.

O conselheiro questiona, ainda, os dados divulgados pelo Ministério da Saúde durante a campanha para a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência do ano retrasado. "Na ocasião, o governo federal informou que, entre 2000 e 2018, houve queda do número de mães adolescentes em todo o País, mas não divulgou a fonte. Eu tentei ligar para o número que eles deixaram para obter outras informações e, depois de 55 minutos de espera, não consegui o que queria. Por isso, registrei uma queixa junto à Ouvidoria do órgão", descreve.

Para reverter a situação, Abreu Neto defende a instituição de programas de aconselhamento aos pais dos adolescentes dentro das escolas. "O próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê a intervenção precoce para a proteção dos menores de 18 anos", defende.

OUTRA REALIDADE

Em nota, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Bauru utiliza os dados levantados junto ao Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), que engloba as redes pública e privada de saúde, para apontar uma queda do número de partos de mães adolescentes, entre 2019 e 2020, de 619 para 486.

Segundo o psicólogo Arnaldo Vicente, no caso dos usuários da rede privada de saúde - responsável por jogar a estatística de mães adolescentes, em Bauru, para baixo -, a pandemia do novo coronavírus criou um grande medo de frequentar consultórios médicos e hospitais. "As famílias com um nível socioeconômico maior passaram a dialogar mais com os filhos neste sentido", argumenta.

Em relação aos usuários da rede pública - que registrou um aumento de nascidos de mães adolescentes -, em alguns casos, falta diálogo em casa, como ressalta Vicente. "As famílias oferecem uma dinâmica para que os jovens não tenham autoconfiança suficiente a ponto de respeitar as suas perspectivas para o futuro", defende.

Embora o psicólogo reconheça a existência de iniciativas governamentais para prevenir a gravidez na adolescência, o profissional alega que a formação dentro de casa tem uma interferência crucial no comportamento dos jovens.

Ações educativas

Em nota, a Prefeitura de Bauru alega que busca garantir que o público jovem tenha acesso a uma saúde reprodutiva e sexual, ampliando o seu conhecimento. Tanto que, "em 2019, a prefeitura realizou 708 atividades educativas junto às escolas e atingiu 6.463 estudantes".

Em dezembro de 2020, a Saúde municipal também instituiu o Programa de Inserção Gratuita de Contraceptivos Reversíveis de Longa Duração para adolescentes e mulheres em situação de vulnerabilidade social.

Quanto à Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência deste ano, a prefeitura alega que "foram realizadas 55 atividades nas unidades de saúde, atingindo 747 jovens".

Por outro lado, o município assume que deixou de executar uma série de ações coletivas em detrimento da pandemia do novo coronavírus. Diante disso, frisa que "estão sendo formuladas novas estratégias de comunicação e informação ao público-alvo, a fim de discutir a gravidez na adolescência, de maneira virtual e junto às redes sociais, visando a educação em saúde com a segurança que o momento requer".

Já a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e o Ministério da Saúde não responderam à solicitação da reportagem até o fechamento desta edição.

Fonte: JCNet

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