terça-feira, 5 de maio de 2020

Sobre a educação a distância no ensino infantil (Dra. Débora Quetti)

Assisto, estarrecida, ao chamado das escolas particulares para voltas as aulas, a distância, para crianças em fase de educação infantil! Uma escola que se preze, que tem gestores e coordenadores com formação pedagógica adequada, que realiza estudos constantes sobre o processo de aprendizagem, na infância, jamais iria concordar com um formato de escola que não considera a criança como protagonista. Nós, estudiosos da educação, temos total consciência e conhecimento das orientações dos órgãos que elaboram estudos científicos sobre a infância. Ambos são unânimes em afirmar que, até os dois anos de idade, nenhuma criança deve ser exposta às telas de computadores ou celulares. Entre os 2 e 5 anos de idade, essa exposição não deve ultrapassar uma hora diária (Sociedade Brasileira de Pediatria). Por outro lado, a própria legislação brasileira veda (proíbe) a educação a distância para crianças matriculadas na educação infantil enquanto isso, na educação básica apenas 20% da carga horária é permitida em formato EAD, sem contar que o chamado "homeschooling" é também vetado por lei. Diante das recomendações das organizações de pediatria e dos fundamentos legais disponíveis, apontando que o estudo a distância na educação infantil são ineficazes e prejudiciais, é importante relembrar que: a educação infantil está focada na interação e nas brincadeiras. Nesse sentido, devemos nos questionar: Como a criança vai desenvolver sua sociabilidade, interação, brincadeira, em frente a uma tela? Como conceber uma criança passiva e não protagonista diante do processo de ensino e aprendizagem? Nós, educadores e estudiosos da infância sabemos que a criança aprende por meio da interação, de relações sociais e afetivas significativas. Cômenio concebe a aprendizagem na infância através da experiência. Rousseau investe numa educação da infância livre, democrática, sem estruturas ou formações mecanizadas e instituídas por adultos que se consideram detentores do saber. Pestalozzi nos ajuda a enxergar a criança como protagonista, como centro do processo de aprendizagem. Froebel desenvolveu estudos que enfatizam a imprescindível necessidade de usar a ludicidade para que a aprendizagem flua. Montessori afirma em seus estudos que a utilização do material concreto facilita a aprendizagem, jogos e outros materiais didáticos, construídos pelas crianças em parceria com os professores, são essenciais. São tantos estudiosos... Freinet, Piaget, Vygotsky... O fato é que, nós educadores, pais e mães, devemos dizer NÃO a educação a distância na educação infantil! Escolas que estão aderindo a esse formato, atestam que não são instituições de ensino confiáveis, desconhecem totalmente as teorias e concepções de ensino da infância! Não aceite que seu filho/filha fique em frente a uma tela de computador. Ao invés de ajudar, estará prejudicando ainda mais a aprendizagem desta criança! Uma coisa importante: estou me referindo a EDUCAÇÃO INFANTIL. As demais fases tem os seus estudos específicos sobre a exposição constante, das crianças e jovens, às telas dos celulares. Essa discussão ainda envolve inúmeras questões como a própria desigualdade social brasileira que impede algumas famílias de terem acesso a rede de internet e aos instrumentos tecnológicos como celulares e computadores. Outro ponto que não deveria passar desapercebido é que a REPROVAÇÃO, na Educação Infantil é proibida por lei (art. 31, inciso I, da LDB 9394/96! Desta forma, caso a escola ameace a criança de ser reprovada por não participar das aulas on-line, esta, deve ser processada e responder judicialmente por tais improbidades.


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