sexta-feira, 20 de março de 2020

"Pediram isolamento. Vamos nos isolar onde?", diz morador de rua.

Abrigo Boracea, na Barra Funda, onde dormem pessoas em situação de rua - Alex Tajra/UOL


Abrigo Boracea, na Barra Funda, onde dormem pessoas em situação de ruaImagem: Alex Tajra/UOL
Em um trecho da rua Norma Pieruccini Giannotii, na Barra Funda, sujeira e moradores em situação de rua dividem a calçada com pequenos comerciantes que vendem água e doses e garrafinhas de cachaça. Pouco antes da fila que se acumula para entrar no centro de convivência do Abrigo Boracea, os irmãos Michael e César* mostram a outras pessoas que estão vivendo nas ruas como estão se cumprimentando em tempos de coronavírus. Sorrindo, tocam os calcanhares. "Se alguém pegar isso aí aqui, fudeu", diz Michael.
"Mandaram todo mundo ir pra casa. E nós, que não temos casa? Estamos dormindo aqui um do lado do outro, a 40 centímetros uns dos outros. Pediram isolamento, e nós vamos nos isolar aonde?" Os dois vivem nas ruas de São Paulo há cerca de um ano. Em 2014, eles deixaram Governador Valadares, em Minas Gerais, para tentar a vida na capital paulista. Conseguiram um emprego na zona cerealista no Brás, mas perderam os postos no ano passado. Desde então, os dois passaram a dormir no Boracea, sobrevivendo com bicos e trabalhos esporádicos, como ajudar no carregamento de um caminhão ou montar palcos de eventos. De chinelos, com uma calça jeans dobrada na altura do tornozelo e camisa vermelha estampada, César acompanha o irmão na preocupação com a pandemia que atinge o mundo. No albergue, diz ele, o entra e sai é constante: um dia, você está com alguém dormindo ao seu lado, no outro pode ser outra pessoa. 
fonte:  noticias.vol.com.br.

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