Uma creche no Guará 2 foi denunciada por maus-tratos após uma estagiária relatar agressões contra crianças. Em um vídeo gravado por uma funcionária e divulgado nas redes sociais, a dona da unidade de ensino aparece colocando uma colher de comida na boca de uma criança de forma truculenta. Em seguida, ao ver a menina chorar, a segura pelos braços e a larga na cadeirinha de alimentação.
A estagiária havia começado no local havia 15 dias e contou à mãe que, desde a primeira semana, estranhou o comportamento da proprietária. "Ela era grossa e rude com as crianças, mas minha filha achou que fosse porque eram mais custosas", disse a mãe da jovem. Segundo ela, a filha desistiu de continuar no trabalho após presenciar episódios de agressividade. "Na terça-feira, ela me mandou mensagem dizendo que não voltaria mais, porque a proprietária a deixava sozinha com nove crianças e era agressiva com os pequenos", explicou.
"Ela (a funcionária da creche) nos mandou o vídeo e fomos atrás de todos os pais para contar o que minha filha tinha visto e vivido lá", contou a mãe da estagiária.
Segundo boletim de ocorrência registrado na 4ª Delegacia de Polícia (Guará 2), a proprietária também teria batido com uma agenda na cabeça de uma criança de 3 anos. A denúncia também foi levada ao Conselho Tutelar.
Os envolvidos no caso que conversaram com o Correio tiveram seus nomes preservados, em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para evitar identificação das vítimas.
Indignação
As imagens chocaram a mãe da criança que aparece sendo agredida. "Quando me falaram sobre o vídeo, fiquei desesperada. Quando vi, fiquei sem chão. Desde então, têm sido dias muito pesados. Eu não consigo parar de assistir à cena da agressão contra a minha filha, ainda tão pequena", desabafou.
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Ela contou que a filha, de 1 ano e 8 meses, tem apresentado comportamento mais apegado e sinais de insegurança. "Se eu saio de perto, ela chora." A mãe disse, ainda, que o filho mais velho também frequentou a creche e relatava situações desconfortáveis. "Ele dizia que ela era grossa e falava alto, mas eu nunca imaginei que fosse algo sério. Agora percebo que talvez fosse, sim."
Outro casal, pais de uma menina autista de 2 anos e 10 meses, também relatou mudanças no comportamento da criança. "De uns meses para cá, tem ficado cada vez mais difícil. Ela chora antes mesmo de sair de casa. Achávamos que era uma nova fase de adaptação, mas quando recebemos o relato das funcionárias, nosso mundo caiu", disse o pai.
A mãe está revoltada. "Já tivemos problemas em outra creche, mas nada tão grave. Na hora da matrícula, frisamos muito sobre a condição dela, e a dona disse que sabia como lidar. Agora, o sentimento é de indignação", disse. Segundo o casal, as funcionárias contaram que a menina chegou a ser trancada sozinha na brinquedoteca por causa do comportamento.
Os pais reforçaram o sentimento de culpa. "Eu me culpo por não ter prestado atenção à mudança de comportamento dela, por não ter questionado a falta de câmeras. Nossa denúncia é um alerta para que outros pais fiquem atentos, para que seus filhos não passem pelo que os nossos passaram", disse a mãe.
Falta de licenciamento
Em nota, a Secretaria de Educação informou que a instituição não é credenciada e não possui processo em andamento para regularização.
A pasta explicou que a Gerência de Regulação de Ensino da Rede Privada entrou em contato com a instituição, ocasião em que a proprietária confirmou não ter iniciado o processo de credenciamento. Uma inspeção in loco, feita ontem, constatou que o estabelecimento reconheceu a operação como irregular e optará por encerrar as atividades. O relatório da inspeção segue em fase de elaboração.
Defesa
O advogado Guilherme Arruda de Oliveira, que representa a creche, avalia que a conduta do vídeo não configura maus-tratos. "Ela admite que houve um rigor excessivo na alimentação de uma criança. Foi um excesso de conduta, não uma prática reiterada", disse. Segundo ele, as outras acusações apresentadas só chegaram ao conhecimento da defesa após a divulgação dos vídeos.
Oliveira acrescentou que a dona do local atua no ramo há 48 anos, sendo mais de 10 no Guará, sem registros anteriores de denúncias no Conselho Tutelar ou na Polícia Civil. Ele defendeu que a investigação seja conduzida com cautela. "Quando falamos de crianças, o sentimento imediato é de revolta, mas precisamos avaliar com calma, ouvir os pais e preservar o bem-estar e a imagem das crianças", concluiu.
Fonte: Correio Braziliense
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