A série documental ‘Má Influência: O Lado Sombrio dos Influencers Infantis’, lançada pela Netflix, tem provocado espanto na audiência. Em três episódios, o documentário conta a história de Piper Rockelle, uma influencer mirim que atingiu 10 milhões de inscritos no YouTube sob condições controversas. Os depoimentos colhidos pela produção demonstram que, por trás da fama de Piper Rockelle e seu grupo, intitulado The Squad, existem denúncias de manipulação, exploração e abusos que se repetem no mercado de influencers digitais com menos de 18 anos de idade.
A realidade exposta pela série americana não está tão distante de nós, conforme mostra o documentário Infância em Caixa. O longa-metragem brasileiro reúne relatos de especialistas em privacidade e famílias de influenciadores mirins, que expõem os desafios da exposição online. “Muitos canais e páginas começam como registros de brincadeiras e do processo de desenvolvimento da criança, e então a diversão acaba se tornando uma forma de trabalho infantil”, conta Nathália Braga, diretora do documentário.
Trabalho infantil e ‘crianças influencers’
O trabalho infantil é proibido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), porém existem condições específicas que permitem que crianças e adolescentes sejam artistas ou atletas no Brasil. Na prática, algumas crianças influenciadoras não são protegidas, ultrapassando o limite saudável para as horas de filmagem, condições de remuneração e até mesmo de exposição, sendo vítimas de assédio e bullying.
Documentários como o ‘Infância em Caixa’ e ‘Má Influência’ causam um incômodo necessário para entendermos que a responsabilidade é toda nossa. Você não precisa ser pai ou mãe de uma criança influencer para pensar duas vezes antes de expor uma criança. Às vezes, uma figurinha no seu WhatsApp ou vídeo engraçado já está alimentando uma indústria — reflete Braga.
O filme Infância em Caixa começou a tomar forma quando Nathália Braga escolheu pesquisar sobre a vida dos influenciadores mirins ainda na faculdade de jornalismo. A jovem cineasta de 28 anos também é influenciadora e acompanhou o interesse da audiência e do mercado publicitário nos vídeos de desafios, unboxings, encenações e gameplays protagonizados por crianças e adolescentes. Apesar disso, a publicidade infantil é proibida no Brasil desde 2014.
Quase 11 anos depois, a publicidade infantil ainda pode ser encontrada nas redes sociais de forma velada. Por isso, Infância em Caixa investiga o lucro por trás da presença de todas as crianças na internet, quer sejam criadoras de conteúdo ou não. O documentário acaba de ser lançado gratuitamente no YouTube e contém recursos de acessibilidade, como legendas e tradução em Libras.
**Nathália Braga é jornalista e criadora de conteúdo, co-fundadora da plataforma Influência Negra, onde apresentou e dirigiu um podcast de entrevistas. É fellow do Early Childhood Global Institute, do Dart Center for Journalism and Trauma (Columbia University), e vencedora dos prêmios Troféu Mulher Imprensa, Prêmio Sim à Igualdade Racial, YouTube Vozes Negras, LinkedIn Top Voices e YouPix Builders.
Fonte: Brasil.Perfil
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