domingo, 1 de dezembro de 2024

Projeto “enquadra” conselheiros tutelares como Servidores Públicos.


Entre os oito projetos que deram entrada recente na Câmara de Vereadores de Campo Grande consta texto para estruturar normas relacionadas à política municipal dos direitos da criança e do adolescente. Ele define sobre a destinação de recursos para políticas e a atuação dos conselhos tutelares da Capital.

O texto começa disciplinando o papel do CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente), que tem entre as tarefas auxiliar na formulação e fiscalização da política municipal, definição de ações prioritárias para o orçamento na área da infância e adolescência. Também é atribuído ao conselho atuar na seleção de entidades que receberão recursos públicos e participar de estudos sobre eventual necessidade de ampliação do número de conselhos tutelares.

O conselho atuará com 18 membros, sendo nove representantes do poder público, escolhidos pelo chefe do Executivo e os outros nove vindos de entidades não-governamentais, com inscrição há pelo menos dois anos e reconhecidos pelo CMDCA.

Os da sociedade terão mandato com duração de dois anos, sendo possível recondução. Já os do poder público “terão seus mandatos condicionados à indicação pelo Poder Executivo”, se, haver menção à duração do mandato deles no projeto de lei. Os conselheiros poderão perder mandato em caso de falta injustificada por três sessões seguidas, entre uma série de possibilidades, como conduta indigna.

O órgão será comandado pelas pessoas escolhidas pelo coletivo, com direção por um ano e escolha ocorrida logo nos primeiros dias do mandato dos selecionados. Os conselheiros do CMDCA não são remunerados.

O conselho é a instância responsável por definir a destinação e fiscalizar a aplicação dos recursos do FMIA (Fundo Municipal da Infância e Adolescência). Todos os anos, os integrantes avaliam a execução do orçamento e analisam balancetes sobre o uso da verba. O projeto proíbe a destinação de receitas do fundo pela prefeitura sem autorização do CMDCA, o uso para custear funcionamento de conselhos tutelares, prédios ou ainda custear ações que sejam continuadas e tenham previsões próprias de recursos públicos. Entre os valores que compõem o fundo estão doações, e essas entradas e saídas serão acompanhadas pelos integrantes do conselho.

Pelo texto apresentado, o município deve oferecer condições estruturais para o CMDCA e também aos conselhos tutelares. As despesas, incluindo de remunerações de conselheiros tutelares, deverão ser especificadas na Lei Orçamentária Anual.

Conselhos Tutelares - Também é responsabilidade do CMDCA conduzir processo eleitoral para escolha de conselheiros. Campo Grande tem oito conselhos, os três últimos instalados a partir do final de 2023, após ordem judicial. Cada unidade tem cinco membros eleitos.

Parte do projeto enviado trata da atuação dos conselhos tutelares, como a previsão de relatórios trimestrais ao CMDCA, Ministério Público e Judiciário. O descumprimento pode gerar investigação pela Comissão Permanente de Ética, já existente.

O funcionamento dos conselhos gerou muito debate nos últimos dois anos, após a morte de Sophia Ocampo, vítima de violência doméstica, mesmo tendo o pai, Jean, procurado ajuda em diferentes setores do sistema de proteção, como Polícia Civil, Defensoria Pública e conselho tutelar.

Uma mudança prevista é que o plantão envolverá todos os conselheiros, estando um em ação por vez, sendo que “atenderão a demanda do município independente da região”, ficando na unidade do centro. Hoje, há um plantonista por região. Os plantões são remunerados.

Os conselheiros procurados pela reportagem ainda estavam analisando o texto para avaliar o impacto no ritmo de trabalho deles. Já foi apontada a preocupação com a centralização do plantão, o que pode gerar acúmulo de demanda e dificuldade na destinação do caso para um membro que atua na região onde moram os envolvidos acompanhar os desdobramentos necessários.

O projeto prevê ainda ponto eletrônico para os conselheiros e fiscalização pelo CMDCA, prefeitura e MP. A legislação que disciplina a atuação dos conselhos não previu hierarquia ou comando, nem mesmo um fluxo de trabalho, o que foi bastante debatido recentemente, havendo até procedimento no MP.

Os conselhos passarão a ter vinculação direta à Secretaria de Governo e Relações Institucionais, que assumirá as questões funcionais dos integrantes. A exemplo dos servidores públicos, o projeto traz uma série de obrigações aos eleitos, como não ter outra atividade remunerada.

As eleições, a cada quatro anos, conduzidas pelo CMDCA também têm as regras definidas no projeto de lei. Com base nas diretrizes de lei federal, no ano eleitoral o conselho divulgava edital para as eleições, fixando como ocorreria o pleito. A escolha é pelo voto popular, um ano após a eleição presidencial. Entre as regras para os interessados, constam experiência de cinco anos na área da infância, realização de prova de conhecimento, com pelo menos 50% de rendimento.

O projeto ainda define os direitos dos conselheiros, como previdência, licenças, férias, gratificação natalina. A remuneração será o correspondente ao pago a servidor enquadrado no nível 15 do funcionalismo e também foram propostas regras para punições por infrações disciplinares, a exemplo dos servidores, com possibilidade de advertência, suspensão e demissão, como em caso de falta por três dias seguidos ou 5 alternados no prazo de 30 dias.

Fonte: Campo Grande News


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