Um adolescente de 17 anos se apresentou à polícia, nessa quarta-feira (25), e confessou ter participado da morte do juiz Paulo Torres Pereira da Silva, de 69 anos, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). Ele foi autuado por ato infracional equivalente ao crime de latrocínio (roubo seguido de morte).
Segundo a advogada Mariana Melo, responsável pela defesa, o adolescente teria sido chamado por Kauã Vinícius Alves da Rocha, de 19 anos, preso na última segunda-feira, para participar de um roubo de carro no bairro de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife.
"Eles são amigos de infância. O adolescente acabou topando participar junto com Kauã e outro homem que ele não conhecia. No momento da abordagem, ele (adolescente) não chegou a descer do carro. Quando ele pensou em sair, ouviu o tiro. Eles fugiram e, depois disso, perderam o contato", contou a advogada.
Ainda segundo ela, o adolescente decidiu se entregar à polícia porque se arrependeu. "Esse foi o primeiro assalto dele. Ele disse que participou porque queria dinheiro para fazer uma festa de aniversário. Não houve ordem de ninguém para o roubo ser praticado. Ele se arrependeu", relatou.
Depois de ser ouvido e autuado, o adolescente foi encaminhado para o Centro de Internação Provisória (Cenip), onde aguardará audiência na Vara da Infância e Juventude.
INVESTIGAÇÕES CONTINUAM PARA ESCLARECER MORTE DE JUIZ
A Polícia Civil, que mantém silêncio em relação às investigações, continua as buscas para prender pelo menos mais um suspeito de participação na morte do juiz Paulo Torres.
Além do adolescente apreendido, outros três homens já estão presos preventivamente no Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima.
Dos três suspeitos presos na praia de Enseada dos Corais, no Cabo de Santo Agostinho, na segunda-feira, apenas Kauã teria participado efetivamente da abordagem ao juiz. Esdras Ferreira de Lima, 21, e Alcides da Silva Medeiros Júnior, 20, estariam descaracterizando o carro usado no crime, ocorrido na quinta-feira passada, na Rua Maria Digna Gameiro.
Os investigadores agora trabalham com a hipótese mais forte de latrocínio e associação criminosa. Mas outras linhas - inclusive a suspeita de que o magistrado pode ter sido morto em função do exercício do seu trabalho - seguem sob avaliação. Ele era titular da 21ª Vara Cível da Capital.
A polícia já sabe que o carro usado no crime, um Ônix de cor vermelha, havia sido roubado no dia 3 de outubro no Cabo de Santo Agostinho. O veículo passou por perícia, na terça-feira, no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no Recife.
SUSPEITO DISSE QUE JUIZ FOI MORTO APÓS REAGIR
Segundo depoimento de um dos suspeito à polícia, os criminosos anunciaram o assalto logo após se aproximarem do carro do juiz. Mas a vítima teria se negado a sair do veículo.
Um dos assaltantes teria ameaçado atirar, e o juiz teria respondido que não fizessem isso, pois "todo mundo iria ouvir". O outro criminoso teria começado a apalpar o motorista a fim de identificar se ele não estava armado. Foi nesse momento que o magistrado teria tentado sair com o carro e acabou atingido por um tiro na cabeça. Os assaltantes teriam voltado para o carro usado na abordagem e fugido.
A câmera de segurança de um prédio registrou o momento em que o carro do magistrado é cercado e, um tempo depois, o momento em que o veículo bate no muro.
O crime aconteceu a cerca de 300 metros da residência do juiz. Nenhum pertence teria sido levado do carro da vítima.
O delegado Roberto Ferreira, titular da 12ª Delegacia de Homicídios, responsável pelo caso, ainda não deu entrevista sobre as prisões.
O caso também é acompanhado pelo Departamento de Segurança Institucional do Poder Judiciário, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e por uma força-tarefa formada por promotores do Ministério Público de Pernambuco.
QUEM ERA O JUIZ MORTO?
Paulo Torres Pereira da Silva estava na magistratura há mais de três décadas.
Ele tomou posse na magistratura pernambucana em 25 de abril de 1989. Ele foi nomeado magistrado, em virtude de aprovação em concurso público de provas e títulos para exercer o cargo de juiz de direito, na Comarca de Verdejante.
Em 1991, Paulo assumiu a 2ª Vara da Comarca de Salgueiro. Ele também atuou como juiz das Comarcas de Serrita, São José do Belmonte, Parnamirim, Belém de São Francisco e Escada. Em 1993, o magistrado atuou na Comarca de Jaboatão dos Guararapes. Em seguida, atuou na Comarca do Cabo de Santo Agostinho.
A chegada à Comarca da Capital aconteceu em 1994. No Recife, foi juiz na 8ª Vara Cível, na 1ª Vara da Fazenda Municipal e no I Juizado Especial de Pequenas Causas do bairro do Rosarinho. Atuou também nas 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 10ª, 13ª, 16ª, 17ª e 18ª Varas Cíveis da Capital.
Fonte: Jornal do Comércio
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