domingo, 10 de abril de 2022

Brasileiro tem início com pelotão de elite na mão de técnicos estrangeiros.


Começou neste sábado (9) um Campeonato Brasileiro de múltiplos sotaques estrangeiros. Nunca a competição teve início com tantos treinadores de fora, responsáveis por 9 das 20 equipes em ação na primeira divisão.

Apontados como principais favoritos pelo investimento e pelos resultados recentes, Atlético Mineiro, Flamengo e Palmeiras são respectivamente dirigidos por um argentino (Antonio Mohamed), um português (Paulo Sousa) e outro português (Abel Ferreira).

Esses times foram os três primeiros colocados da edição 2021. Na sequência, apareceram na tabela o Fortaleza, que é comandado pelo argentino Juan Pablo Vojvoda, e o Corinthians, que trocou recentemente o brasileiro Sylvinho pelo português Vítor Pereira.

Hoje, também têm comandantes estrangeiros o Santos (Fabián Bustos, argentino), o Internacional (Alexander Medina, uruguaio), o Botafogo (Luís Castro, português) e o Coritiba (Gustavo Morínigo, paraguaio). Há, assim, um recorde.

Jamais houve simultaneamente mais de sete técnicos de fora. No ano passado, consideradas todas as rodadas, foram oito (não simultâneos). Portanto, de cara, o Brasileiro de 2022 já se estabelece como aquele com mais treinadores não brasileiros.

O retrato da rodada inicial, comparado com os registros dos últimos dez anos, mostra que os clubes passaram mais e mais a buscar soluções não caseiras. Até 2019, o que se via era a competição ter início com um profissional estrangeiro, no máximo dois.

O estrondoso sucesso do português Jorge Jesus naquele ano no Flamengo fez outras equipes repetirem o modelo. O também português Abel Ferreira em seguida enfileirou títulos no Palmeiras e contribuiu para a multiplicação.

Não à toa, os portugueses são maioria, uma lista de quatro nomes puxada pelo próprio Abel. Há três argentinos, um uruguaio e um paraguaio, técnicos que de fato tentam estabelecer conceitos distintos dos habitualmente vistos no Brasil.

A situação é diferente da observada até o início do século, com treinadores que haviam nascido em outros países, mas estavam estabelecidos em território brasileiro. O Corinthians, por exemplo, teve nomes como o uruguaio Darío Pereyra, ídolo do São Paulo no tempo de jogador.

"O Vítor Pereira é basicamente o primeiro técnico estrangeiro no sentido de o Corinthians buscar conhecimento de fora mesmo", afirma o historiador Celso Unzelte, especialista na trajetória do clube alvinegro.

"O Fleitas Solich [paraguaio que dirigiu a equipe entre 1962 e 1963], quando chegou, já era o Feiticeiro do Flamengo. O Renganeschi [Armando, argentino, 1978] tinha levado o Londrina à semifinal do Brasileiro. Então, não tinha nada a ver com importação de técnico."

Agora, a ideia parece mesmo ser importar ideias. Foi o caminho seguido pelo Atlético Mineiro após a saída de Cuca, que liderou o time na conquista do Brasileiro do ano passado. A diretoria chegou a negociar com Jesus e fechou com Mohamed, sem se empolgar com os nomes locais à disposição.

O Flamengo, insatisfeito com o trabalho de Renato Gaúcho, foi buscar outro português, Paulo Sousa, tentando reviver o sucesso alcançado com Jesus. O começo tem sido complicado, com conflitos com o elenco e a perda dos títulos disputados até aqui.

No Palmeiras, não houve motivo para mudanças. Com o moral de quem conquistou as duas últimas edições da Copa Libertadores, Abel segue à frente do time alviverde, que em 2022 já conquistou a Recopa Sul-Americana e o Campeonato Paulista.

A quantidade de estrangeiros não é vista com bons olhos por Rogério Ceni, que conquistou o Brasileiro com o Flamengo em 2020 e pouco depois foi demitido. Agora no São Paulo, ele luta para surpreender os favoritos e deixar o título nas mãos de um técnico brasileiro.

"Eu lamento. Acho que há ótimos treinadores no Brasil", disse o paranaense. "A gente tem amigos, ótimos, que poderiam exercer essa função em grandes clubes. Vai ser necessária essa onda de treinadores de fora até que o fracasso exista também e se volte a pensar em treinadores daqui."

O Brasileiro tem início com quatro jogos no sábado. Às 16h30, no Maracanã, duelarão Fluminense e Santos, com transmissão do Premiere, que também exibirá Atlético-GO x Flamengo, às 19h. Na sequência, às 21h, o Palmeiras receberá o Ceará, com SporTV e Premiere.

Técnicos estrangeiros que começaram a Série A do Campeonato Brasileiro nos últimos 10 anos*
2014
Miguel Ángel Portugal (ESP): Athletico

2015
Diego Aguirre (URU): Internacional

2016
Edgardo Bauza (ARG): São Paulo
Diego Aguirre (URU): Atlético Mineiro

2018
Diego Aguirre (URU): São Paulo

2019
Jorge Sampaoli (ARG): Santos

2020
Domènec Torrent (ESP): Flamengo
Eduardo Coudet (ARG): Internacional
Jorge Sampaoli (ARG): Atlético-MG

2021
Abel Ferreira (POR): Palmeiras
Hernán Crespo (ARG): São Paulo
Juan Pablo Vojvoda (ARG): Fortaleza
Miguel Ángel Ramírez (ESP): Internacional

2022
Abel Ferreira (POR): Palmeiras
Alexander Medina (URU): Internacinal
Antonio Mohamed (ARG): Atlético Mineiro
Fabián Bustos (ARG): Santos
Gustavo Morínigo (PAR): Coritiba
Juan Pablo Vojvoda (ARG): Fortaleza
Luís Castro (POR): Botafogo
Paulo Sousa (POR): Flamengo
Vítor Pereira (POR): Corinthians

*As edições de 2012, 2013 e 2017 não tiveram estrangeiros na 1ª rodada

Fonte: Folha

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