domingo, 6 de março de 2022

Taxa de violência contra a mulher cresce em até 97% na pandemia.


O isolamento social potencializou a violência doméstica durante a pandemia. O estado de São Paulo concentra 40% dos casos de feminicídio, segundo levantamento feito pela Rede de Observatório da Segurança.

Quando se trata de lesão corporal dolosa decorrente de violência doméstica, o Pará teve um aumento de 97,2% em 2020, chegando a marca de 1.357 casos, se comparado a maio de 2019. O Rio Grande do Norte, registrou crescimento de 25,8% também no mesmo período, com 584 vítimas, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). 

A pandemia trouxe uma série de adaptações na rotina dos brasileiros, mas as mulheres tiveram um impacto que vai além de se isolar em casa. As vítimas que sofrem violência doméstica passaram a conviver por mais tempo com os agressores. 

No levantamento feito em 12 estados, sendo São Paulo, Rio Grande do Sul e do Norte, Pará, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Ceará, Espírito Santo, Amapá, Acre e Maranhão, foram 26.741 vítimas de agressões domésticas, entre 18 e 59 anos, segundo o Fórum. 

Quando se trata de homicídio com vítimas mulheres, nos 12 estados analisados, de março a maio de 2020, foi registrado 34,3% dos casos. Em São Paulo, Rio Grande do Sul e do Norte, Pará, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Ceará, Espírito Santo, Amapá e Maranhão, quando se trata de registros de ameaça contra mulheres, 33.104 casos foram registrados. 

No levantamento divulgado pela Rede de Observatório da Segurança, estados registram recordes: 

200 mulheres foram mortas em São Paulo. O estado concentra 40% do casos monitorados pela Rede;
Pernambuco é o segundo estado com mais casos de feminicídio;
Bahia é o estado com maior número de homicídios de mulheres;
Rio de Janeiro é o segundo estado que mais agride mulheres;

Dificuldade para denunciar

Em entrevista ao SBT News, Isabela Sobral, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), apontou outro aspecto que a pandemia trouxe às vítimas de violência doméstica: a dificuldade em denunciar o agressor. 

"Então, a gente teve redução de 20% de estupro, uma redução bem significativa. Uma redução de 16% dos registros de ameaça contra mulheres. Uma redução de 10% nas lesões, que são as violências físicas, então, isso indica que as mulheres durante a pandemia buscaram menos a polícia para denunciar a violência. Ao mesmo tempo que a gente [FBSP] observou essa queda, em indicadores que dependem da ida até a delegacia, a gente observou uma estabilidade e aumento em alguns estados na violência letal, que são os homicídios com vítimas mulheres e os feminicídios. Então, isso corrobora com a hipótese de que de fato as mulheres tiveram dificuldade em buscar as delegacias", aponta a pesquisadora. 

Dependência financeira 

O fator econômico também ganhou peso na pandemia e impactou as vítimas de violência doméstica. Segundo dados divulgados pelo Ipea (Pesquisa Econômica Aplicada), o percentual de mulheres que estavam trabalhando em 2020 ficou em 45,8% no terceiro semestre do ano. O nível mais baixo desde 1990, quando a taxa ficou em 44,2%. 

A dificuldade de obter independência financeira, agravado pela crise do novo coronavírus, não ajuda às vítimas de violência, como apontado pela Isabela Sobral, do FBSP:

"Durante a pandemia a gente tem uma piora econômica também, muitas pessoas perdendo o emprego e muitas pessoas precisando trabalhar em casa, essas duas situações elas aumentam o contato entre o casal e se já existe uma situação de violência pode se intensificar. Quando há a perda de renda, criando uma dependência financeira, pode haver também uma situação na qual a mulher não pode sair do relacionamento violento. Então, a piora na situação econômica pode impactar a violência contra mulher no sentido de que as mulheres têm menos possibilidades de sair do relacionamento violento, tendo maior dependência financeira do seu companheiro".

Denuncie

Qualquer pessoa pode denunciar casos de violência doméstica, que esteja acontecendo com terceiros ou com a própria vítima. Para denunciar, basta ligar no número 180, de qualquer telefone, para obter atendimento imediato. A denúncia é anônima, gratuita e funciona 24h por dia.

Ao entrar em contato, a vítima também receberá orientação sobre casas de apoio próximas e apropriadas para cada caso. O Ligue 180 atende em todo o território nacional.

Fonte: SBT News

Nenhum comentário:

Postar um comentário