O Centro de Referência Especializado de Assistência Social de Pato Branco (Creas) registrou menor procura de atendimentos vindo de mulheres em situação de violência doméstica desde o início da pandemia. No entanto, a coordenadora e psicóloga do local, Marina Particheli, afirma não acreditar que o município tenha realmente menores casos de violência. “Em função da característica do período, recebemos situações de violência mais extrema e em menor número, porém, grande parte dos casos registrados chegaram até nós através de situação de violência ou negligência de crianças, pelo Conselho Tutelar”, afirma.
Marina explica que, em diversas situações, a criança estava exposta a violência psicológica ao presenciar os pais se agredindo e, com denúncias da comunidade, chegavam até o conselho tutelar. “A partir desse ponto, a equipe identificava que a mãe também estava em situação de violência, ou seja, a diminuição foi apenas na procura espontânea”.
Outro ponto observado pela coordenadora é que, até então, o fluxo de atendimento não chegava totalmente até o Creas, passando muitas vezes apenas pela saúde ou pela delegacia. “Iniciamos essa organização no início de 2021 e acreditamos que agora essa demanda chegará para nós e conseguiremos ofertar os atendimentos que todas têm direito.”
O atendimento realizado pelo Creas para as mulheres vítimas de violência ocorre a partir de encaminhamentos de outras redes de serviço do município, como o sistema de saúde, o conselho tutelar, delegacia e também com denúncias no 181 ou disque 100. A procura também pode ser espontânea por parte da vítima, podendo se dirigir até o Creas do município.
Atendimento individual
O atendimento para essas mulheres é realizado por uma equipe técnica, onde profissionais como assistente social, psicólogos e advogados são acionados, com o objetivo de identificar as necessidades individuais do caso e realizar as orientações e encaminhamentos necessários.
Além de visitas domiciliares, contato por telefone e aplicativo de mensagens, cada mulher recebe um atendimento individualizado e informações cruciais para entender seus direitos ou possibilidades e, segundo a psicóloga, “a equipe atua como apoio, e realiza a mediação entre familiares, saúde e segurança, auxiliando nesse momento de maior fragilidade”.
As mulheres que desejam sair de casa são encaminhadas para locais de proteção, como albergues e familiares de referência no município ou fora, quando necessário. Para as vítimas que ainda desejam viver com o agressor, a equipe do Creas mantém o acompanhamento através de atendimento psicológico e social, com o objetivo de fortalecer a mulher e prepara-la para a superação da violência.
“A mulher, na maioria das vezes, apresenta dificuldade para romper o ciclo de violência. Isso acontece por inúmeros fatores, entre eles está o padrão de relacionamento conhecido e vivenciado há anos, além de questões financeiras, sociais, e emocionais, onde se enquadra o medo, a culpa e a autoestima baixa”, fala Marina.
A coordenadora conclui que, após os anos de violência, que é caracterizada como progressiva, a mulher se encontra “fragilizada e se julga incapaz de sair do relacionamento, sendo que, muitas vezes, já possuem histórico de violência anterior e pouco amparo da família de origem, tornando um desafio romper essa realidade”.
Em casos onde a mulher nega o atendimento, após tentativas, o Creas se mantém a disposição da vítima para caso precise de ajuda, “pois é um processo que precisa ser apoiado e fortalecido, para evitar que essa pessoa entre em outros relacionamentos abusivos no futuro”, finaliza Marina.
O Conselho Municipal de Defesa dos Diretos Humanos das Mulheres, em parceria com a Secretaria de Assistência Social, realizará na próxima terça-feira (8), uma Audiência Pública em alusão ao Dia Internacional da Mulher. O evento será realizado na Câmara Municipal de Pato Branco, às 18h30.
O objetivo do evento é divulgar ações, levantar informações e ouvir o que a comunidade tem a dizer sobre o assunto para assegurar que as leis sejam seguidas, no dia que simboliza as lutas e conquistas políticas e sociais das mulheres.
Entre os assuntos propostos para serem debatidos na audiência, estão o “limite do aceitável”, “o que ou quem determina a violência contra a mulher?!”, “ciclo da violência”, “até onde as violências estão normalizadas no nosso dia a dia?!”, “qual o melhor caminho para buscar ajuda em caso de violência contra a mulher” e “quais serviços estão disponíveis em nossa cidade para esse atendimento”.
Programação na Câmara
A Câmara Municipal de Pato Branco também planejou uma agenda de eventos para a semana da mulher, com início na próxima terça-feira (8), às 14h, com a palestra ‘Mulher Inspiração’.
Na quarta-feira (9), às 15h, uma nova palestra será realizada, com a juíza Franciele Estela Albergoni de Souza Vairich, oferecida para às equipes femininas desportivas do município. O tema será ‘Meninas Empoderadas’.
A quinta-feira (10), haverá o encerramento da programação, com a posse da nova Procuradora da Mulher e da Procuradora Adjunta, às 19h30, onde Thania Caminski (DEM) assumirá o posto de Procuradora e Maria Cristina Hamera (PV) será empossada como procuradora adjunta.
Serviços de atendimento no município
Pato Branco conta com diversas opções de atendimento para mulheres que enfrentam qualquer tipo de violência. O mais comum são atendimentos referente a agressões física, porém, a violência psicológica, onde a autoestima da mulher é diminuída, a violência patrimonial, quando o agressor não permite o acesso da mulher a documentos e cartões de crédito, também são enquadrados como violência doméstica.
Entre os serviços ofertados, estão a Delegacia da Mulher, o Cras, o Creas, a Procuradoria da Mulher, Defensoria Pública, Disque 180 e outras redes de apoio.
Maria Cristina Hamera, vereadora e Procuradora da Mulher, comenta que, além de buscar orientações junto a serviços de atendimento especializados, as mulheres que sofrem algum tipo de ameaças ou já sofriam violência antes da pandemia, podem tomar medidas para se proteger, como contatar pessoas de confiança e pedir auxílio. “Familiares, amigos, conhecidos e vizinhos podem e devem ajudar”.
A vereadora afirma que, em casos de violência doméstica, familiar ou sexual, a busca emergencial por serviços de saúde é a primeiro passo. “A vítima deve sempre buscar ajuda. Se precisar de atendimento médico, serviços de saúde devem ser acionados em primeiro lugar, porque a depender da natureza da violência, existem medidas emergenciais a serem tomadas”.
Maria Cristina vem sendo uma voz ativa das mulheres no município e, como vereadora, foi autora da Lei Nº 5.854, de 6 de dezembro de 2021, que dispõe sobre a concessão de auxílio aluguel às mulheres vítimas de violência doméstica e extrema vulnerabilidade e que não tem condições de retornarem para casa, sendo esse um dos principais fatores que levam as mulheres ao ciclo de violência familiar. Campanhas e projetos referentes ao tema também são realizados por Maria Cristina com frequência, “sempre pensando no empoderamento, força e busca por melhores momentos para as mulheres”.
Fonte: Diário do Sudoeste
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