domingo, 13 de fevereiro de 2022

Comandante da Guarda Municipal de Jaboatão é exonerado após denúncia de transfobia; 'Se não tomarmos coragem, nada muda', diz servidora.


Após denúncia de transfobia feita pela primeira e única mulher trans na Guarda Municipal de Jaboatão dos Guararapes, o inspetor Admilson Silva de Freitas, comandante da corporação, foi dispensado do cargo pelo prefeito Anderson Ferreira (PR). A decisão foi publicada nesta sexta-feira (11) no Diário Oficial do município.

O crime de transfobia ocorre quando há preconceito contra quem se identifica como transgênero. Integrante da Guarda Municipal há cinco anos, Abby Silva Moreira, de 45 anos, contou ao g1 que era tratada pelo ex-comandante pelo pronome masculino, apesar de se identificar como mulher transgênero, e que foi afastada corporação por ele, mesmo sendo concursada.

Abby também disse que teve suas gratificações salariais cortadas por Admilson Silva de Freitas. Nesta sexta, a servidora comentou a decisão do executivo municipal e disse que espera que o caso sirva de exemplo para que quem integra a população LGBTQIA+ tenha coragem de denunciar qualquer preconceito.

"Sei o quanto é difícil e do medo que eu tinha. Se o sindicato não me procurasse e desse apoio, talvez eu nunca denunciasse. É difícil, dá medo. A gente vê todos os dias um LGBT ser assassinato sem motivos. Se não tomarmos coragem, nada muda".
Segundo Abby, o sentimento dela é de justiça, mas não é possível comemorar. "Me sinto triste porque nada disso era necessário. Bastava me respeitar. É tão simples, mas tão complicado para tantos", afirmou.

Na publicação, o prefeito também determina que o inspetor Cláudio José de Andrade assuma o cargo no lugar de Admilson.

Por nota, a prefeitura de Jaboatão informou que alterou a lotação da servidora e que, a partir desta sexta-feira (11), ela passa a integrar o quadro de funcionários da Secretaria-executiva de Direitos Humanos, no setor administrativo, durante período de readaptação.

Na semana passada, uma denúncia formal por transfobia foi feita à corporação por meio do Sindicato dos Guardas Municipais de Jaboatão. Na segunda (7), o sindicado protocolou uma denúncia no Ministério Público de Pernambuco (MPPE).

De acordo com a 6ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania de Jaboatão dos Guararapes, já foi instaurado um procedimento.

O MPPE também disse que, como medida preliminar, foi marcada, para a primeira semana de março, uma audiência entre a vítima, o agressor, o Conselho LGBTQI+, a Secretaria de Direitos Humanos e o Sindicato dos Guardas Municipais de Jaboatão dos Guararapes.

O g1 tenta entrar em contato com Admilson de Freitas para solicitar uma resposta do ex-comandante da Guarda Municipal de Jaboatão sobre esse caso.

Entenda o caso
Primeira mulher trans concursada em uma Guarda Civil Municipal do país, Abby Silva Moreira passou no concurso em 2014 e assumiu o cargo em 2017. Ela contou ao g1 que sofre transfobia desde que entrou na corporação, mas que tudo foi intensificado no último ano, quando o inspetor Admilson Silva de Freitas assumiu o comando.

De acordo com Abby, a primeira providência do comandante foi retirar as gratificações dela sem qualquer justificativa. A junta médica do município solicitou a readequação dela para uma área administrativa da Guarda Municipal. Foi quando Admilson de Freitas a afastou, segundo Abby.

"Quando saiu uma portaria no Diário Oficial, em vez de me readaptar na Guarda, ele falou que não tinha lugar para mim lá e me jogou para outra secretaria. Lá não tinha trabalho para mim e me mandaram de volta para a Guarda. Voltei, e ele disse que eu não tinha mais nada a ver com a Guarda e me expulsou, como se eu tivesse sido exonerada de um cargo que sou concursada", contou, na quinta (10).

Ainda de acordo com Abby, este foi o principal de uma série de episódios que fizeram com que ela se sentisse desrespeitada. A servidora está afastada por determinação médica até março.

"Ele não respeita meu gênero, me tratava só pelo masculino, depois zombava, dizia 'se fala ela né?'. Eu sou concursada e me colocaram de molho, aquela pessoa indesejada, que ninguém quer, e, até hoje, não se tem uma definição sobre o meu caso", disse Abby.
A servidora acredita que isso não teria acontecido se ela fosse uma mulher cisgênero, ou seja, que nasceu com sexo biológico feminino e se identifica como mulher.

Fonte: G1

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