quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Conselho Tutelar se opõe a decisão de colégio em não renovar matrícula de alunos envolvidos em caso de preconceito na BA.

 
O Conselho Tutelar de Salvador informou que se posiciona de maneira contrária à decisão do Colégio Cândido Portinari, de não renovar a matrícula de alunos envolvidos em um episódio de racismo contra uma colega. Apesar da oposição do Conselho, o posicionamento não altera a medida da instituição de ensino.

De acordo com a instituição, o regimento interno foi usado como base para definir pela não renovação da matrícula para 2022 dos estudantes envolvidos no caso ocorrido em 18 de novembro. Na ocasião, uma adolescente, que cursa o 8º ano EF e é filha de um funcionário da escola, foi associada a atividades criminosas por morar em uma região periférica de Salvador.

A coordenadora responsável pelo Conselho Tutelar na Boca do Rio, que atende à região do Costa Azul, onde fica o colégio, disse que não tem detalhes sobre a decisão da escola, mas afirmou que há outros meios para que os estudantes envolvidos possam ser disciplinados.

Segundo Sileda Muniz, representantes do Conselho vão se reunir na tarde desta quarta-feira (24), e antecipou que jamais emitirá uma nota, em favor a alguma decisão, que seja manter o aluno fora da sala de aula.

“Tudo que há de contrário, de garantias a direitos prioritários, o Conselho Tutelar não vai corroborar. Essa é nossa essência. A gente entende que isso é o direito da criança, automaticamente prioritário, e é dever do estado, da sociedade da família zelar por esses direitos”, comentou.

O g1 entrou em contato com o Colégio Portinari, para saber uma versão da instituição a respeito do posicionamento do Conselho e o colégio disse que segue com o que está no regimento interno.

A instituição destacou que não trata-se somente da não renovação da matrícula dos alunos, mas realizou outras ações de conscientização, como diálogo com as famílias e reflexão sobre o tema com os estudantes.

O Cândido Portinari ainda afirmou que acompanhou o caso com medidas imediatas que envolveram o atendimento às famílias para esclarecimento sobre a gravidade da situação, afastamento dos estudantes e consulta ao Conselho de Classe, órgão deliberativo do colégio, que estabeleceu a não continuidade dos alunos na escola no próximo ano letivo. A escola não informou quantos alunos não poderão renovar a matrícula na instituição.

Por meio de nota, a escola também destacou que promoveu uma palestra educativa para a turma e destacou que as medidas reforçam que a escola “repudia e não compactua com atos discriminatórios e preconceituosos”.

Relembre o caso


As mensagens preconceituosas e racistas vieram à tona quando uma das mães dos colegas da vítima, que não quis se identificar, tomou conhecimento da situação. Impressionada com as agressões verbais, ela divulgou as informações à imprensa.

"Eu fiquei estarrecida pelo teor das mensagens e pela naturalidade com que o tema foi tratado”, afirmou. Em uma das mensagens, um dos colegas da vítima diz: "Bala para você só de fuzil".

A vítima tentou se defender das agressões e se posicionou demonstrando orgulho do local onde mora: "Nascida e criada na favela anjo, prazer. Porém, pode ficar de boa, porque não sou envolvida com tráfico, não. Nem eu e nem a minha família". Ela ainda explicou que a favela tem muitos lados positivos, mas que os colegas não estavam preparados para conversar sobre isso.

Como resposta, a vítima recebeu a seguinte mensagem: "o lado bom da favela é conseguir tudo de graça".

Além disso, um colega mandou áudios em que ria enquanto proferia falas preconceituosas, como "a única parte boa da favela são as drogas" [sic] e "Beethoven para você deve ser som de bala perdida".

Após o ocorrido, a vítima saiu do grupo de Whatsapp, que tem cerca de 20 alunos da turma.

No Instagram do Colégio, alunos e ex-alunos falaram sobre o caso e cobraram um posicionamento. "Assim como todos os alunos e ex-alunos da instituição, estou no aguardo da devida punição que esses estudantes merecem. Espero que vocês voltem a ser o colégio humanizado que um dia tive tanto orgulho de dizer que estudei", escreveu uma ex-aluna.

Para a mãe que fez a denúncia, o caso serve de exemplo de como o preconceito e o racismo precisam ser melhor trabalhados nas escolas particulares de Salvador.

"Espero que sirva de estímulo para outros pais também denunciem, porque esse assunto precisa ser debatido com a devida relevância. Simplesmente não pude deixar passar”, afirmou.
 
Fonte: G1
 

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