sábado, 7 de agosto de 2021

Pandemia: cresce busca dos próprios adolescentes pelo Conselho Tutelar.

A pandemia tem feito adolescentes acima dos 13 anos procurarem mais a ajuda do Conselho Tutelar, em Bauru. A constatação é de Kelly Silva Andrade Correia, presidente do Conselho Tutelar 2, que atende a população de bairros nas regiões Norte e Noroeste da cidade. Ela aponta que a situação tem sido verificada de 2020 para cá, como consequência de um momento em que escolas estão restritas, com ensino híbrido e em que os projetos sociais, que funcionavam em tempo integral, têm ocorrido com meio período e público reduzido.

Circunstâncias que têm feito os adolescentes passarem mais tempo em casa. E, consequentemente, a lidarem mais com as adversidades do lar.

"Temos notado frequência de muitos conflitos familiares dentro dos lares, especialmente onde existem adolescentes. Aí, muitas vezes, eles acabam fugindo de casa e ficam alguns dias fora. E, como não têm aonde pedirem socorro, procuram o Conselho", comenta Kelly, frisando que Bauru tem recebido até mesmo adolescentes de outras cidades que fugiram de casa.

Ela confirma, no entanto, que este é um movimento inverso ao que era comum há alguns anos, quando só o Conselho Tutelar é que buscava os adolescentes para atendimento. Para ela, o aumento da procura aponta, de certo modo, que há conscientização referente ao papel do órgão na sociedade.

"Não é mais como antigamente, os adolescentes passaram a entender nosso papel. Sabem, hoje, que o Conselho Tutelar não é um órgão de repressão ou coação, mas sim de acolhimento e proteção de direitos", ressalta a conselheira, atribuindo o maior esclarecimento ao esforço dos conselhos, que, nos últimos anos, cumpriu inúmeras agendas de palestras em escolas, por exemplo.

MUDANÇAS

Kelly afirma também que grande parte dos adolescentes que procuram o serviço é formada pelos que já são acompanhados de alguma forma pelo serviço.

"Eles vêm nos procurar, porque confiam, sabem que vamos verificar o problema que tem gerado o conflito em casa, além de pedir a presença dos pais ou responsável e fazer orientação e encaminhamento. Muitas vezes, os próprios pais são direcionados para atendimento psicológico", frisa.

A presidente do Conselho Tutelar 2 considera ainda que, antes da pandemia, quando as escolas estavam abertas normalmente, muitos conflitos eram resolvidos pelas mediações dos próprios professores ou direção das unidades. "O professor identificava o problema, conversava e chamava os pais. E, agora, não tem acontecido isso", detalha a presidente.

A entidade sempre foi um braço da assistência social, mas somente nos últimos 3 anos é que os dois Conselhos Tutelares da cidade ganharam sedes próprias e, hoje, possuem até roupas e alguns alimentos para atenderem quem bate à porta em busca de ajuda.

Os órgãos funcionam das 7h às 19h e possuem plantões 24h, mas a missão de resolver o conflito dos adolescentes no mesmo dia não é fácil.

ATÉ ESGOTAR

A inexistência de uma Casa de Passagem na cidade para acolhimento temporário de menores complica ainda mais. Hoje, o adolescente que procura o Conselho Tutelar é encaminhado para parentes, até que se esgotem as chances de mantê-lo com membros da família. O que pode acabar gerando uma espécie de efeito boomerang, ou seja, que os menores voltem a procurar o conselho diante de novas adversidades familiares. 

"É complicado, porque os parentes do adolescente, muitas vezes, já desistiram de tentar ajudá-lo ou se esquivam por não querer se envolver em conflitos na família", observa Kelly.

A sede do Conselho 2 fica na quadra 2 da rua Silva Jardim, no Jardim Bela Vista, e a do Conselho 1 fica na quadra 3 da rua Raposo Tavares, no Higienópolis.

Fonte: JC Net

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