quinta-feira, 29 de julho de 2021

Denúncias de tráfico de crianças no Brasil são acima da média global.

 


Cerca de 86 denúncias de tráfico de pessoas envolvendo meninas até 18 anos foram feitas entre 2017 e 2020 no Brasil

. A pesquisa se refere a denúncias feitas ao Disque 100, de Direitos Humanos. O dado chama atenção por ser acima da média global apresentada pelo relatório do UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime da ONU). Enquanto a média nacional foi de 40%, os dados mundiais registram 34% de vítimas no mesmo período. As informações fazem parte do Relatório Nacional de Dados sobre Tráfico de Pessoas 2017-2020, enviado com exclusividade a Universa em função do Dia Mundial de Combate ao Tráfico de Pessoas, que é amanhã,30 de julho. A data foi criada para chamar a atenção aos crimes de tráfico humano. Segundo a ONU, quase um terço das vítimas desse tipo de crime são crianças, e 71% das pessoas traficadas são meninas e mulheres.

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Ao todo, o Disque 100 recebeu 176 denúncias de tráfico interno — dentro do país —, e 79 de tráfico internacional, sendo 86 meninas (até 18 anos) e 64 mulheres (58,8% do total de denúncias), e 17 meninos e 10 homens (50,19% do total). Desses números, há prevalência na modalidade exploração sexual (83), adoção ilegal (43), e trabalho em condições análogas a de escravo (23).

Considerada a terceira maior atividade ilícita do mundo, perdendo apenas para tráfico de drogas e o de armas, o tráfico de pessoas é quando a vítima é agenciada, aliciada, recrutada, transportada, transferida, comprada, alojada ou acolhida mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso. 

O criminoso utiliza esses artifícios para remoção de órgãos, tecidos ou partes do corpo da vítima, trabalho em condições análogas a de escravo, submeter a qualquer tipo de servidão, adoção ilegal ou exploração sexual.

 A pena é de reclusão de 4 a 8 anos, e multa. Esse é o primeiro documento com informações coletadas a partir da Lei de 2016, sobre prevenção e repressão ao crime, e que amplia as finalidades de exploração decorrentes do tráfico. Até então, o tráfico de pessoas no Brasil estava ligado apenas à prostituição e à exploração sexual.

No Ligue 180 e na Saúde, mulheres atendidas também são maioria 

Na Central de Atendimento à Mulher —Ligue 180—, foram contabilizadas 388 denúncias de tráfico de pessoas, sendo 237 referentes à exploração sexual, 121 ao trabalho análogo ao da escravidão, 17 para fins de adoção e 13 para remoção de órgãos.


As mulheres também somaram maioria como possíveis vítimas atendidas no sistema de saúde, ou seja, nos hospitais e postos. Segundo o Ministério da Saúde, foram 456 pessoas identificadas pelo sexo feminino ante 154 homens. Os números de 2020 ainda não estão completos, e os dados foram contabilizados até setembro do ano passado

. O relatório reúne dados de diversos órgãos como a Polícia Federal, o Ministério da Cidadania, que comanda os Creas (Centro de Referência Especializado em Atendimento Social) e Ministério da Saúde, e cada um tem sua metodologia de preenchimento de dados. O próprio MJSP informa que não há um sistema unificado sobre o crime.

 Cada área usa um tipo de coleta, e falta muita informação quanto a raça, gênero e idade das pessoas atendidas. E a proposta do relatório, conforme explica a pasta, é justamente consertar esse gargalo para, em cima de dados mais concretos e organizados, propor políticas públicas para prevenção e combate ao crime. É o que explicou o secretário Nacional de Justiça em coletiva para a imprensa, Claudio de Castro Panieiro, na manhã dessa quinta-feira (29):

 "Desde 2016, o Brasil adota políticas públicas para enfrentamento ao tráfico de pessoas, e agora vamos analisar a parte crítica desses dados e usar como base para implementar ações."

Na análise da coordenadora do Programa para o Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Asbrad (Associação Brasileira de Defesa da Mulher da Infância e da Juventude), Graziella Rocha, a falha na coleta de dados se dá pela complexidade do tema. "Há ainda fatores como a falta de autoreconhecimento da condição de vítima, desconfiança nas autoridades públicas, falta de informação sobre os mecanismos de denúncia, medo de represálias dos criminosos e receio de criminalização pela sociedade", aponta Graziella. 
 "Esse cenário reflete nas estatísticas que não retratam o fenômeno do tráfico de pessoas adequadamente, fazendo com que, após 5 anos da aprovação da Lei, ainda não tenhamos a dimensão da incidência do tráfico de pessoas no Brasil.".

Mais de 200 vítimas foram resgatadas.

O relatório aponta também que somente em operações da PF, foram resgatadas 203 pessoas vítimas de tráfico interno e internacional no período analisado, sendo 32 crianças e adolescentes (até 18 anos), 129 homens e 42 mulheres.

 Segundo o órgão, o número de inquéritos por modalidade de tráfico interno e internacional aumentou bastante entre 2017 para 2020, de 15 para 218 investigações, com ênfase no trabalho em condições análogas de escravo (de 8 para 67), seguido por remoção de órgãos (3 para 44), servidão (0 a 36), exploração sexual (2 para 36) e adoção ilegal (2 para 35). 

Houve também mais condenações. De acordo com o Depen (Departamento Penitenciário Nacional), no que se refere .ao tráfico interno, cinco pessoas, todos identificados como homens, foram sentenciadas em 2017, e 38 em 2020. Apenas uma mulher foi condenada neste período, totalizando 39 pessoas presas por tráfico interno. Já no que se refere ao tráfico internacional, há uma participação maior de mulheres: foram 31 condenadas, ante os 56 homens nos últimos três anos. Segundo o Depen, casos de tráfico internacional estariam relacionados à exploração sexual e, seguindo essa lógica, mais mulheres atuariam no crime para esse fim, o que levaria à hipótese de que possíveis vítimas de tráfico ascenderam a um novo rol dentro da organização criminosa

fonte: www.uol.com.br/universa/noticias



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