O Estatuto da Criança e do Adolescente completa
31 anos em julho deste ano. No Brasil, cerca de 33 milhões de crianças e
adolescentes vivem em estado de pobreza e de privação de direitos. São
61% do total de indivíduos nessas faixas etárias, até 12 anos
incompletos, crianças, entre 12 e 18 anos, adolescentes. Os dados são
dos relatórios mais recentes do Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef).
A revelação, no último sábado, das cruéis condições vividas pela
criança de 11 anos de idade resgatada pela Polícia Militar numa
residência no Jardim Itatiaia, mesmo que possa ser considerado um caso
pontual, não justifica a indolência das autoridades responsáveis pela
aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente.
A cena na qual o menino foi encontrado, com os pulsos e pés
amarrados em fios de metal, em um cubículo, de pé num barril, indica um
secular costume de pôr a ferros um indivíduo como forma de punição. Ato
vil e medieval. E prática comum no período da escravidão.
A diferença é que o pai do menino alegou que foi a forma que
encontrou para discipliná-lo, pois era “agitado”. Essa afirmação
denuncia a incapacidade paterna de educar e amparar a criança. Outro
aspectos que merece atenção especial dos organismos dedicados à amparar
os direitos das crianças e adolescentes.
O fato pode ser analisado sob inúmeras perspectivas, todas elas,
contudo, centradas nas condições da pobreza e da cultura punitiva
presente e enraizada nos costumes de parte da sociedade.
Curioso é observar, ainda, como os agentes responsáveis por
observar o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente iniciam
um rol de argumentos para tentar atenuar a responsabilidade que
carregam. Nota-se a construção retórica que não anula os fatos ou a
evidente situação na qual se encontrava o menino.
O Conselho Tutelar de Campinas alegou que acompanhava a família há
um ano. E que desconhecia o comportamento punitivo aplicado pelo pai à
criança. Os 25 conselheiros são remunerados e submetidos a um regime de
trabalho de 40 horas semanais, mas com dedicação exclusiva para
atendimento 24 horas por dia à população.
Com autonomia para trabalhar, o organismo responde à Secretaria
Municipal de Assistência Social e Segurança Alimentar, que também
conhecia o caso da família. Contudo, foram os Policiais Militares que
libertaram o menino, após denúncia dos vizinhos.
Fonte:https://correio.rac.com.br/_conteudo/2021/02/campinas_e_rmc/1057715-editorial--torturante-desprezo-a-infancia.html
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