sábado, 20 de outubro de 2018

Veja a Declaração da Procuradora do Rio Grande do Norte

Sei que queremos um Brasil melhor. Queremos o mesmo resultado. Queremos viver numa democracia.

Minha mãe, juíza eleitoral durante mais de 20 anos, nunca deixou que na nossa casa defendêssemos candidatos ou partidos. Dizia que, como juíza eleitoral, tinha que se manter isenta, neutra, observando apenas a legalidade. Como cidadã, nunca fui, não sou, militante do PT ou de qualquer partido político. Como Procuradora do Estado - e não do Governo -, jamais revelei meu voto ou me manifestei publicamente a favor de nenhum partido ou candidato.
CALAR-ME neste momento sobre a candidatura de JB e tudo o que esta representa é violentar a inteireza da minha integridade e dignidade como pessoa humana. E por isso, pela primeira vez, venho me manifestar publicamente para impedir o avanço do autoritarismo, da opressão, do extermínio das minorias. Para ser contra o roubo da liberdade.
Não nego que o PT envolveu-se em corrupção, apoiou, silente, a ditadura assassina de Maduro na Venezuela e se nega a uma autocrítica. Como eleitora do PT no passado, sinto-me traída e decepcionada. Reconheço que, no momento atual, o próprio Lula não se comportou como um estadista, pensando no bem do país acima dos seus interesses pessoais.
Observo o medo na sociedade de que o PT venha a buscar um regime autoritário. Os últimos mandatos do partido, bem como todas as falas do candidato 13, sinalizam no sentido oposto. Ainda que, remotamente, essa seja uma possibilidade, com o candidato 17 é uma CERTEZA. Entre uma possibilidade e uma certeza, fico com a primeira. Para mim não há opção.
E não há opção porque para mim o problema passa por um lugar muito mais profundo e sagrado. Trata-se de uma questão de HUMANISMO, de dilema moral e ético.
E ai não pode haver relativização.
O que está em jogo no Brasil hoje não é uma disputa de partidos nem de candidatos. O que está em jogo no Brasil hoje é se queremos a volta da ditadura ou a continuidade da democracia (imperfeita, inacabada, cheia de falhas e buracos, mas DEMOCRACIA). O que está na roda é o destino político do país - e a vida de todos os brasileiros. O que está em jogo é a relação interpessoal, a civilidade, o respeito entre os seres. O HUMANO que há em cada um de nós.
Neste momento, votar em Haddad não é ser petista, mas sim HUMANO. Votar em Haddad é simplesmente VOTAR CONTRA TUDO ISSO. Votar no PT não é apoiar o PT. O desejo de ver o PT fora da cena política brasileira não pode fazer com que deixemos, indiretamente, que a ditadura reine neste país, sendo a intolerância irrestrita a rainha.
O cenário real que temos nos obriga a ESCOLHER entre um e outro no segundo turno. É um fato a ser encarado. Situação tão dramática e grave que exige de todos nós uma posição. Jamais uma omissão, já que a OMISSÃO aqui terá conseqüências nefastas. Dante Alighieri diz: “No inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade (omissão) em tempo de crise.”
Não é hora de exaltar o ódio ao PT ou deixar que este ódio conduza o destino do Brasil. Há coisas muito mais sérias, graves, definitivas para olharmos e que estão na balança.
Pelo ódio ao PT vamos deixar que o candidato 17 seja presidente e destrua definitivamente este país? Por ódio ao PT vamos permitir a volta da ditadura, da lei da mordaça, da eliminação de todos os direitos, da militarização da sociedade, do reinado da intolerância? Como podemos deixar – por OMISSÃO ou AÇÃO - que um ser com estas características autoproclamadas presida nosso país?
O ódio a um único partido pode ser capaz de nos levar a tudo isso? É o que tenho me perguntado todos os dias.
Bolsonaro é a anti-liberdade.
Eu sempre escolherei a LIBERDADE de ser quem se é. Antes de tudo, o princípio maior que me guia é o HUMANISMO. Onde este não estiver, eu não estarei.
Como ser humano, cidadã, mulher, advogada e Procuradora do Estado, condições profissionais que me fizeram jurar, por duas vezes, proteger a Constituição Federal, os direitos fundamentais e a democracia social brasileira, não posso calar-me diante do horror que JB personifica. Aliás, como Procuradora do Estado, sou paga pela sociedade para cumprir e defender a Constituição Federal.
O meu voto é um voto de RESISTÊNCIA, de REJEIÇÃO a tudo o que JB representa. É meu NÃO a tudo o que ele defende e planeja implantar. É meu NAO ao Brasil de mais exclusões que ele fortalecerá e, portanto, a um país ainda mais injusto. Votar em Haddad neste momento é votar na possibilidade da democracia e contra a certeza da ditadura. É um voto que diz RESISTÊNCIA a qualquer outra forma de vida que não passe pela liberdade, que resiste corajosamente dentro de mim. É dizer que quero meu país livre, com a preservação da sua cultura rica e diversificada, num chão de igualdade, democracia e fraternidade. É DIZER QUE NAO ME CALAREI DIANTE DE TANTOS RETROCESSOS CIVILIZATÓRIOS. Pois como diz Jonh Donne, o poeta inglês, “a morte de qualquer homem me diminui porque sou parte do gênero humano. Por isso não perguntes por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti.”

Como disse a Jornalista Eliane Brum, “vamos fazer do luto verbo”. VAMOS LUTAR, VAMOS RESISTIR.


Marjorie Madruga
Procuradora do Rio Grande do Norte

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