Por Abigail Torres
Tenho visto assistentes sociais se manifestando dizendo que não votam em candidatos de esquerda e que têm direito a isso. E é verdade, a democracia política é uma conquista, decorrente de árdua luta de muitas/os militantes de esquerda, dentre as quais assistentes sociais que sofreram as atrocidades da ditadura.
Mas, se eu concordo com a tese, discordo dos argumentos. Porque ao mencionar porque entendem que têm esse direito, assistentes sociais começam a publicar nas redes uma série de preconceitos contra usuárias e usuários de políticas públicas, especialmente contra pessoas que recebem benefícios dos programas de transferência de renda.
Mais ainda ,advogam que podem votar em candidatos e candidatas que defendem a redução da maioridade penal, a redução dos investimentos estatais em políticas públicas, que defendem o retorno à ditadura, que são homofóbicos, racistas, machistas. Bem, aí não dá para concordar com o argumento.
O que penso sobre isso?
A meu ver, o exercício profissional é um mandato coletivo, uma instituição de ensino avalia nossa condição de exercer a profissão e diz que estamos aptas e aptos para fazê-lo, a partir disso juramos nosso compromisso com valores coletivos da profissão e nos habilitamos a exercê-la. Nossa atuação se dá em espaços coletivos, prioritariamente, nas políticas públicas, em que a principal direção é assegurar acesso aos direitos sociais, garantidos em lei, e atuamos, inclusive, para ampliá-los.
Então precisamos conversar mais sobre isso. Quando profissionais afirmam publicamente que têm o direito de não se pautar pelos princípios coletivos da profissão que exercem, estão defendendo qual profissão?
Em profissões que atuam na atenção direta a pessoas em situação de sofrimento decorrentes da desigualdade, como é o caso do Serviço Social, é indissociável a habilidade técnica, da concepção política que a orienta e da postura ética que a sustenta. Então eu discordo de profissionais que argumentam contra a ampliação dos direitos e que são preconceituosos e preconceituosas na lida cotidiana com usuários e usuárias de políticas públicas.
Sou assistente social, sou mulher, sou filha de migrantes nordestinos e por isso NÃO defendo valores conservadores e não me pauto por eles. Isso, a meu ver, não é só coerência política, é respeito pela minha profissão e pelo mandato coletivo que recebi há quase trinta anos atrás!!
(TORRES, 2018)
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